Estudantes da USP criam startup para gerenciar competições e eventos virtuais

Estudantes da USP criam startup para gerenciar competições e eventos virtuais

Jovens empreendedores se uniram para criar plataforma de gerenciamento de eventos virtuais. Foto: Kosmos/Divulgação

A pandemia do novo coronavírus obrigou muitos profissionais a mudarem a dinâmica de trabalho para se adequar às novas recomendações de distanciamento social. Os organizadores de grandes eventos e competições, por exemplo, precisaram se reinventar, tendo muitas vezes que recorrer ao mundo virtual para seguir promovendo suas atividades. No entanto, se a plataforma utilizada para administrar o evento na internet não for adequada, uma série de problemas podem atrapalhar seu desenvolvimento, comprometendo o engajamento do público. Para promover experiências de qualidade aos participantes e evitar que situações indesejadas aconteçam, estudantes da USP em São Carlos criaram uma startup voltada para o gerenciamento de eventos online

Batizada de “Kosmos”, a nova empresa oferece, por meio de softwares, diversas funcionalidades que incluem a realização de uma competição, como procedimentos para inscrição de participantes, formação de equipes, acompanhamento das atividades realizadas em tempo real, comunicação entre o staff e o público, divulgação de notas e avaliações de jurados, entre outras. Outro serviço que será oferecido pela startup, direcionado para eventos em geral, é a criação de ambientes personalizados em 3D capazes de simular virtualmente uma atividade, como se ela estivesse sendo realizada de forma presencial. Cenários com estandes para exposições e auditórios para a exibição de palestras e apresentações gravadas ou ao vivo são alguns exemplos do que pode ser projetado. Através de um tour virtual em 360º, a ideia é que os convidados tenham uma experiência sensorial, com total imersão ao evento, mesmo a distância. 

Kosmos oferecerá diversos tipos de serviços para a organização de competições online. Foto: Kosmos/Divulgação

A motivação dos estudantes em criar a startup surgiu quando eles participaram da organização da SancaThon 2020, maratona tecnológica promovida em conjunto pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP e Cargill. A disputa desafiou os participantes a desenvolverem soluções para o mercado alimentício, que também tem sofrido o impacto da pandemia de COVID-19. Em três anos de competição, essa foi a primeira vez que o evento não foi realizado de forma presencial: “Desde o início percebemos que seria um grande desafio promover um hackathon totalmente online, pois, diferente de um evento presencial em que arrumamos algumas mesas, cadeiras e um grande salão para todos os participantes trabalharem, nós precisamos de plataformas capazes de hospedar toda a experiência da disputa”, conta Matheus Jacobsen, estudante do curso de Engenharia Elétrica da EESC e um dos fundadores da Kosmos. 

Após pesquisarem por ferramentas virtuais que pudessem gerenciar o evento, os jovens escolheram uma plataforma desenvolvida no exterior. No entanto, assim que a SancaThon teve início, algumas limitações do software selecionado atrapalharam o desenvolvimento da maratona: “A falta de centralização das informações foi, com certeza, nossa maior dificuldade em toda a competição. Com a necessidade de uma plataforma externa de comunicação, nossos colaboradores muitas vezes se sentiram perdidos com tantas informações e não conseguiam acompanhar nossos avisos, lembretes e discussões. Isso prejudicou consideravelmente a experiência de nossos participantes, mentores, jurados e parceiros”, explica Matheus.

Além disso, os organizadores tiveram problemas para receber os materiais desenvolvidos pelas equipes, fazendo com que adiassem em uma hora o prazo de entrega dos pitches pelos grupos. “Neste momento nos demos conta da grande oportunidade que estava na nossa frente e era preciso agarrá-la com toda força e determinação. Foi a partir desse cenário que surgiu a Kosmos, uma startup de tecnologia e eventos voltada para o treinamento, consultoria e otimização de desafios de inovação aberta, que incluem não só hackathons, mas ideathons, desafios de startups e muito mais”, conta Humberto Tello, sócio da empresa e aluno do curso de Sistemas de Informação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP. 

Ambientes em três dimensões permitirão ao participante se sentir dentro do evento. Foto: Kosmos/Divulgação

Campo promissor – Os idealizadores da Kosmos contam que o mercado de plataformas para gerenciar eventos é mais forte em países desenvolvidos, como Inglaterra e Estados Unidos. Já na América Latina, eles afirmam que esse tipo de produto está começando a ser notado agora, mas ainda não é algo comum. “As principais limitações que enxergamos nas plataformas existentes são o alto custo e descentralização dos processos, justamente os pontos onde moram nossos diferenciais. Nós queremos aproveitar esse momento do mercado brasileiro e atuar em duas frentes principais: a democratização do acesso a esse tipo de evento e sua promoção de forma cada vez mais rápida, fácil e intuitiva”, diz Matheus.

Estar antenado no mercado é fundamental para o sucesso de um negócio, ainda mais no caso da startup são-carlense, que atua em um segmento que se transforma muito rápido: “Por trabalharmos com tecnologia, estamos inseridos em um mercado extremamente dinâmico, no qual devemos estar sempre atentos às novidades que surgem a cada minuto. Por isso, precisamos pensar em como tornaremos nossa ideia atrativa tanto para nós como para nossos futuros clientes, com algo que tenha real potencial de mercado”, afirma Humberto.

Para construir e lapidar o modelo de negócio da Kosmos, os desenvolvedores estão contando com a mentoria de docentes da USP, por meio do Centro Avançado EESC para Apoio à Inovação (EESCIn), que funciona como uma ponte de transferência de conhecimentos científicos e tecnológicos desenvolvidos nos laboratórios da Universidade para o mercado. “Essa orientação está sendo um grande aprendizado para toda nossa equipe. Poder contar com a experiência de docentes da EESC para nos aconselhar, nos deixa mais seguros e conscientes nas tomadas de decisão para a startup”, revela Matheus.

Criadores da Kosmos pretendem tornar a organização de eventos virtuais mais fácil com os novos softwares desenvolvidos. Foto: Kosmos/Divulgação

O primeiro passo para mostrar a ideia da empresa ao público foi dado no último dia 12 de agosto, quando os criadores a apresentaram no Food Tech Expo, exposição virtual de startups do setor alimentício de toda América Latina e que tem como objetivo conectar empresas que estão iniciando sua jornada com investidores e grandes corporações. Durante o evento, a Kosmos obteve mais de 500 acessos na plataforma, realizou quase 200 reuniões de negócios e superou 1.200 visualizações em seu site. “Nosso desejo é que a Kosmos ganhe presença em todo território nacional e se torne referência em tecnologia em eventos virtuais e na realização de desafios de inovação”, finalizam os sócios da startup

Além de Matheus Jacobsen e Humberto Tello, também são sócios da Kosmos: Rafael Abbud, estudante do curso de Engenharia Elétrica da EESC; Mateus Fernandes Doimo, aluno do curso de Engenharia de Computação da USP São Carlos, oferecido em conjunto por EESC e ICMC; e Luís Henrique Barros Benedicto, engenheiro de produção formado pela Uniseb.

Texto: Henrique Fontes – Assessoria de Comunicação do SEL/USP

 

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Aparelho portátil ajuda a definir dose ideal de medicamento contra o câncer

Aparelho portátil ajuda a definir dose ideal de medicamento contra o câncer

Plataforma de baixo custo desenvolvida na USP trata previamente células doentes fora do corpo para mensurar quantidade indicada de medicação; procedimento pode reduzir custos do tratamento e efeitos colaterais ao paciente

Dispositivo eletrônico desenvolvido na USP pode reduzir custos de tratamentos contra o câncer. Foto: Henrique Fontes – SEL/USP

Um novo dispositivo portátil, sem fio e de baixo custo criado na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP poderá tornar o tratamento contra o câncer mais seguro e eficiente. O aparelho é capaz de identificar previamente qual a dose ideal de medicamentos que o paciente deve receber, evitando um consumo abaixo ou acima do desejado. Com a tecnologia, o objetivo é que os efeitos colaterais ao paciente sejam reduzidos e o tratamento não falhe por aplicação insuficiente de remédios. Os resultados do trabalho geraram um artigo que foi publicado na IEEE Sensors Journal, revista científica norte-americana. 

O equipamento foi desenvolvido para tratamentos que utilizam a Terapia Fotodinâmica (TFD) no combate ao câncer. Essa técnica, que atualmente já é empregada contra o câncer de pele, não é invasiva e destrói de forma seletiva as células cancerígenas com o auxílio da luz, que é aplicada na região do corpo afetada estimulando os fotossensibilizadores (medicamentos que são “ativados” por sinais luminosos, podendo ser consumidos via oral, intravenosa ou por meio de cremes). Para que a intervenção seja eficaz e segura, tanto a intensidade e o tempo de irradiação da luz como a dose do remédio devem ser estimados de forma precisa.  

Esquema ilustra como é aplicada a Terapia Fotodinâmica para tratar o câncer. Foto: Rodrigo Gounella

“Nossa plataforma realiza uma espécie de tratamento prévio de células cancerígenas coletadas de uma biópsia. Com isso, conseguimos determinar a dose e a concentração ideais dos fotossensibilizadores que devem ser aplicados posteriormente no paciente, o tempo necessário de exposição à luz, bem como a intensidade indicada da irradiação. Dessa forma, é possível reduzir os custos do tratamento, evitar desconfortos causados ​​pela terapia e impedir que células sadias sejam mortas, diminuindo os efeitos colaterais”, explica Rodrigo Gounella, autor da pesquisa e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da EESC. 

Com custo aproximado de R$ 400,00, o aparelho da USP é composto por um sistema de iluminação com 16 leds controlados individualmente, um pequeno computador de alto desempenho com sistema de comunicação por bluetooth e wi-fi e um conjunto de baterias com autonomia de 54 horas. Para controlar o equipamento e facilitar a operação do usuário, foi desenvolvido um aplicativo que envia comandos em tempo real ao dispositivo durante a terapia como, por exemplo, aumentar ou diminuir a intensidade das luzes, que têm suas doses monitoradas pelo app enquanto o tratamento é realizado.  

Para testar a plataforma, os cientistas da EESC avaliaram sua eficácia contra uma linhagem de células humanas infectadas com câncer de estômago, que foram escolhidas porque um dos objetivos dos pesquisadores no futuro é desenvolver cápsulas endoscópicas ingeríveis com leds e sistema de comunicação embutidos que permitam realizar TFD diretamente no órgão. Para iniciar o experimento no dispositivo, porções de ácido aminolevulínico, um dos principais medicamentos utilizados em terapias fotodinâmicas, foram aplicadas sobre a amostra celular e, então, os leds foram acesos, dando início à terapia.

Aplicativo envia comandos ao aparelho enquanto as células cancerígenas são tratadas. Foto: Rodrigo Gounella

“Os dados obtidos mostraram que o aparelho foi capaz de determinar a quantidade ideal de medicamento e a dose de luz indicada para matar as células doentes, que foram destruídas após 49 minutos de tratamento”, conta João Paulo Pereira do Carmo, orientador do estudo e professor do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação (SEL) da EESC. Com base nesse tipo de informação preliminar, o médico responsável pelo paciente poderá definir a dose final de luz e medicamento necessárias de acordo com o estágio de desenvolvimento do câncer no organismo. 

Desafio global – De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2018 foram registrados em todo mundo cerca de 18 milhões de casos de câncer, com 9,6 milhões de óbitos, sendo a segunda maior causa de morte do Planeta. No Brasil, a estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para o triênio 2020-2022 é de que em cada ano ocorrerão 625 mil novos casos da doença no País. O câncer de pele não melanoma será o mais incidente, com cerca de 177 mil registros, seguido pelos cânceres de mama e próstata (66 mil cada), cólon e reto (41 mil), pulmão (30 mil) e estômago (21 mil). 

Professor João Paulo (à esquerda) e Rodrigo escreveram um artigo científico sobre a nova plataforma desenvolvida. Foto: Henrique Fontes – SEL/USP

Segundo os pesquisadores da USP, a portabilidade do novo dispositivo, seu baixo custo e a grande autonomia oferecida são fatores que prometem facilitar a entrada do produto no mercado – a expectativa é de que equipamento esteja disponível para comercialização em até dois anos. Embora já existam alguns aparelhos semelhantes ao desenvolvido na EESC, todos eles apresentam desvantagens. Além de não serem portáteis, são mais caros, não conseguem regular a intensidade da luz nem controlar o experimento em tempo real. Além disso, a maioria dos equipamentos possui leds conectados em série, ou seja, se um deles falha, todos os outros também param de funcionar. 

Financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o estudo foi realizado em colaboração com pesquisadores do Centro de Pesquisa de Ótica e Fotônica (CePOF), sediado no Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP. 

Texto e fotos: Henrique Fontes – Assessoria de Comunicação do SEL/USP 

 

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