Alunos de Engenharia Elétrica criam hardware que pode diminuir valor da conta de luz

Alunos de Engenharia Elétrica criam hardware que pode diminuir valor da conta de luz

SancaLights calcula de forma exata o valor da Contribuição de Iluminação Pública, hoje feita de forma estimada pelo poder público

Hardware permite calcular gasto de energia de cada poste da iluminação pública – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Aplicativos, softwareshardwares e web systems são termos cada vez mais comuns no dia a dia das pessoas e se tornaram sinônimos de soluções rápidas e eficientes para problemas específicos da sociedade. E essas soluções podem surgir em horas, durante maratonas de programação. Foi o que ocorreu durante o HackathonUSP, realizado nos dias 11 e 12 de novembro pelo Núcleo de Empreendedorismo (NEU) da USP, o grupo USPCodeLab e a plataforma InterSCity, no campus Cidade Universitária, em São Paulo. Estudantes da USP foram desafiados a desenvolveram aplicações tecnológicas para problemas do dia a dia de municípios brasileiros a partir do tema Utilizando a tecnologia para criar cidades inteligentes.

O projeto vencedor propôs o monitoramento do consumo da iluminação pública com um hardware que capta o gasto de energia e um sistema web que apresenta os dados de cada poste de luz em um mapa. Chamado de SancaLights, o hardware pode reduzir valores na conta de luz que cada morador paga no final do mês.

Atualmente, além de seu próprio consumo, cada residência paga uma parte da energia pública dos postes de luz por meio da Contribuição de Iluminação Pública (CIP). O valor da CIP é calculado a partir de uma estimativa das prefeituras, que supõe que todos os postes estão acesos durante um determinado período. O problema é que lâmpadas queimadas também entram nessa conta. Numa cidade com aproximadamente 700 mil postes, essa estimativa de gasto de energia elétrica pode diferir muito do valor real consumido. Como as prefeituras contam com a ajuda da população para avisar sobre lâmpadas queimadas, o processo é burocrático e pode demorar semanas para que o reparo seja feito.

O SancaLights chega ao valor exato do imposto a partir da medida da corrente elétrica que passa em cada poste de luz, assim, o consumo passaria a ser medido em tempo real, fornecendo dados para cobrança do valor adequado e também para a rápida substituição de lâmpadas que não estejam funcionando, tornando a iluminação pública mais eficiente e eficaz.

O SancaLights foi elaborado pelos estudantes André Perez, Daniel Fernandes da Nobrega, Leonardo Parente e Guilherme Rocha Gonçalves, todos do curso de Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP.

A equipe vencedora elaborou um aplicativo que calcula o valor do imposto sobre iluminação pública – Foto: HackathonUSP

André explica que a ideia surgiu em 2012, quando o grupo assistiu a uma palestra que informava que o gasto energético da iluminação pública era estimado, pois não havia equipamentos de medição individual em cada poste. Logo, a população pagava, através do imposto CIP, 15% a 30% do valor da conta de luz, um valor que podia ser longe do real. “Isso motivou o grupo a desenvolver uma solução, contudo não tínhamos o know-how técnico para tal atividade naquela época. Conforme íamos adquirindo conhecimento e habilidades ao longo do curso, a viabilidade técnica de uma solução foi se desenhando e ficando cada mais clara e madura.”

André, que já participou e venceu outra edição do HackathonUSP, disse que, quando soube que haveria outra edição com o tema de cidades inteligentes, teve a “convicção de que essa era a oportunidade ideal para tornar real este projeto de longa data. Para tanto, convidei os outros integrantes da equipe para participarem e formamos a SancaLights.”

Assim como todos os protótipos apresentados na competição, o SancaLights terá continuidade em seu desenvolvimento, através de acompanhamento feito pelo NEU. “Já conversamos com alguns professores e estamos discutindo a viabilidade econômica do projeto”, informa André. Ele vê no HackathonUSP “uma oportunidade única de concretizar habilidades que adquirimos mas que, muitas vezes, ficam restritas ao ambiente acadêmico”, sendo também uma forma de “expandir o networking, conhecendo tanto alunos e professores de outros cursos e universidades quanto profissionais consolidados no mercado.”

Fabio Kon, professor do IME, explica que na escolha do tema “foi vislumbrada a oportunidade de colocar a plataforma InterSCity à disposição de uma comunidade mais ampla para que ela seja testada e explorada de diferentes formas. Ficamos bastante felizes com o resultado que demonstrou que a plataforma está se desenvolvendo num bom caminho.” Kon é coordenador do InterSCity e explica que a plataforma  é “um sistema de software livre desenvolvido colaborativamente, que tem como objetivo facilitar o desenvolvimento de sistemas e aplicativos no contexto de cidades inteligentes”.

A equipe que ficou em segundo lugar foi a GeoSchools, que desenvolveu um mapa interativo para análise de densidade de escolas, para que gestores da cidade decidam os melhores locais para investimentos em educação. Já a terceira colocada, Madame Pomfrey, criou uma carteira de vacinas virtual para rastrear digitalmente o histórico de vacinas da população.

Imagem do aplicativo que calcula imposto incluído na conta de luz – Foto: André Marcos Perez​

HackathonUSP – Além da premiação para os três primeiros colocados, o HackathonUSP concede menção honrosa a três outras equipes que obtiverem desempenho destacado durante o evento: a que obteve o melhor pitch (apresentação curta), melhor design de solução e importância do tema escolhido.

O hackathon se iniciou após uma palestra introdutória da Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, a organização do evento apresentou o tema para a competição e os grupos tiveram de criar suas soluções dentro do tempo determinado. Depois de apresentadas as propostas, os grupos passaram pela avaliação de uma banca que seguiu critérios de julgamento, como criatividade, design, impacto e funcionamento.

Para Luana Oliveira, do NEU, o HackathonUSP proporciona “a oportunidade para os alunos criarem soluções novas”. O evento, segundo Luana, “é uma maneira de incentivar o empreendedorismo e a inovação dentro da faculdade. Um pouco mais na área de tecnologia, por ser um hackathon, mas também nas áreas de negócios, design, etc”. Ela informa que a próxima edição do HackathonUSP deverá ocorrer no primeiro semestre de 2018.

“Competições de inovação e tecnologia são uma forma excelente de estimular as pessoas a focar seus esforços em diferentes temas de interesse para os cidadãos. Hackathons são um desses tipos de eventos, onde é possível engajar toda uma comunidade em torno de um problema real”, diz Renato Cordeiro, do USPCodeLab, grupo de extensão que tem como missão “criar um espaço colaborativo para o desenvolvimento de tecnologia na Universidade”. Um dos carros-chefe do grupo, aliás, é “a organização de hackathons, em particular o HackathonUSP”, explica.

O público do evento é formado por estudantes das várias unidades da USP ou com vínculos acadêmicos com outras instituições de ensino superior do Brasil ou de outro país. Os candidatos primeiramente realizam suas inscrições e passam por uma seleção. Os selecionados devem submeter seus projetos antes do dia da competição, para que a organização possa conhecê-los melhor. Nesta última edição, 43 participantes se distribuíram em 12 grupos que desenvolveram soluções para o tema proposto.

Para mais detalhes sobre o HackathonUSP e conhecer as soluções propostas na quarta edição, visite o site do evento.

 

Texto: Vinicius Crevilari – Jornal da USP