Vencedor SancaThon 2018: aparelho portátil visa acelerar atendimento a gestantes em risco

Aparelho portátil visa acelerar atendimento a gestantes em risco

Protótipo integra medidores de febre, pressão e batimentos cardíacos em um único dispositivo e poderá sugerir procedimentos às enfermeiras nos hospitais

Grupo de cinco estudantes da USP foi o vencedor da 1ª SancaThon

Uma solução para agilizar o atendimento a gestantes em situações de risco atendidas em hospitais. Essa é a ideia vencedora da SancaThon, a 1ª maratona de programação da USP em São Carlos, realizada entre os dias 8 e 10 de junho, e que desafiou os participantes a criarem alternativas para problemas da cidade em 31 horas. Para ajudar a combater a mortalidade de grávidas no município, cinco estudantes da Universidade criaram um sistema portátil capaz de unir medidores de febre, pressão e batimentos cardíacos em um único dispositivo.

Com base em um diagnóstico prévio a partir dessas medições, o sistema conseguiria sugerir a profissionais de enfermagem as melhores condutas para se tomar com relação às pacientes em risco. Com isso, o equipamento poderia propor, por exemplo, a verificação de possíveis infecções, hemorragias ou, dependendo do caso, o encaminhamento imediato da gestante ao médico que, por sua vez, seria alertado sobre a gravidade da situação.

Todos os dados coletados seriam disponibilizados automaticamente na nuvem de uma rede de hospitais, dispensando o preenchimento manual de formulários e, caso a paciente precisasse ser transferida para outro local, seria feita a comunicação de informações do prontuário entre os órgãos de saúde. O design do sistema ainda será elaborado e a expectativa é de que até o final do ano o produto esteja disponível no mercado.

“O maior diferencial do aparelho é justamente integrar todas essas funções, pois facilitará muito a vida do profissional, dando a ele orientações de forma inteligente. Em complicações na gravidez, a cada hora que passa, as chances de a gestante sobreviver podem diminuir bastante”, explica Vinicius Garcia, um dos integrantes do grupo vencedor e aluno do curso de Engenharia de Computação da USP, oferecido em conjunto pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) e pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC).

Protótipo passará por testes na Santa Casa de São Carlos

Nomeado de Our life, o equipamento, que deve custar em torno de R$ 2.000,00, será composto tanto por um software quanto por um hardware e, segundo Vinicius, não será preciso treinar os profissionais que irão utilizá-lo, pois a forma de medição atual não será alterada. Ele também conta que as ponteiras dos instrumentos hospitalares frequentemente quebram e, como o protótipo desenvolvido terá os principais medidores integrados, o risco de danos será menor, gerando economia aos hospitais. Também compuseram o grupo vencedor os alunos Gabriel Cerqueira, Alexandre Bellas, Laise Cardoso e Silva e o mestrando Leonardo Moraes.

Além do título da 1ª SancaThon, o trabalho também foi reconhecido pela Santa Casa de São Carlos: “Esse projeto é de grande impacto na saúde pública e, além de evitar mortes, poderá ajudar quem está no processo de assistência no pronto-socorro a acertar mais. Nas próximas semanas pretendemos iniciar alguns testes com a equipe de ensino e pesquisa do hospital”, afirma Daniel Bonini, superintendente da Santa Casa.

Programando na USP – A 1ª SancaThon contou com 39 integrantes, divididos em 9 equipes formadas por participantes de diversas universidades e instituições, que foram desafiados a desenvolver tecnologias. “Grande parte de nossos problemas é técnico, por isso, é preciso integrar o município com os cientistas das universidades. A partir dessa união, conseguiremos avançar a outros patamares”, conta José Galiza Tundisi, secretário de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia de São Carlos.

Jovens tiveram 31 horas para desenvolver soluções a problemas de São Carlos

Ele afirmou, ainda, que os melhores projetos da SancaThon poderão ser financiados, tanto pela Prefeitura, caso aprovados, quanto pelos Governos Estadual e Federal. “Tenho certeza de que São Carlos terá cada vez mais um sistema avançado de desenvolvimento científico e tecnológico e será exemplo no Brasil”, conclui.

Segundo Daniel Magalhães, professor da EESC, a SancaThon superou as expectativas: “A participação dos grupos foi muito efetiva e a vivacidade com que os participantes trabalharam mostra que esse tipo de evento tem público e apelo. Já recebemos, inclusive, sugestões de temas para próximas edições de hackathons na USP”, conta o docente que é diretor do Centro Avançado EESC de Apoio à Inovação (EESCin), um dos realizadores do evento. Segundo Daniel, a Prefeitura de São Carlos se mostrou bastante empolgada com os projetos e demonstrou interesse em trabalhar para implantá-los na cidade.

Mas quem pensa que a SancaThon é importante apenas ao público que irá usufruir dos projetos desenvolvidos está engando. Isso porque os participantes da Maratona têm a oportunidade de desenvolver outras habilidades ao longo de uma iniciativa como essa: “A veia empreendedora é incentivada nos jovens estudantes que, com certeza, serão os responsáveis por transformar a sociedade. A experiência durante o evento é muito rica, eles ganham autoconfiança e ainda geram benefícios ao país”, diz o chefe-geral da Embrapa Instrumentação de São Carlos, João Naime.

Outros trabalhos também foram destaque na competição da USP. Em segundo lugar, ficou o projeto “μCare”, que trouxe a proposta de utilizar um sistema capaz de localizar, em tempo real, determinados equipamentos médicos dentro dos hospitais. A equipe idealizadora do trabalho foi composta por Pedro Jeronymo, Patrick Feitosa, Guilherme Momesso, Guilherme Prearo e Bruno Stefano, todos alunos do curso de Engenharia de Computação da USP em São Carlos.

Nove equipes participaram da maratona de programação da USP

Na terceira colocação ficou o projeto Calisto, no qual os integrantes da equipe propuseram uma solução para reduzir o tempo que os pacientes passam dentro de um ambulatório ou pronto-socorro. Para isso, os participantes criaram uma espécie de totem capaz de adiantar o processo de triagem. O equipamento também atuaria para ajudar aqueles que ainda não estão no hospital, marcando consultas, solicitando ambulâncias e indicando a farmácia mais próxima ao ser consultado sobre a disponibilidade de um remédio. A equipe é composta pelo autônomo Ricardo Ferreira e pelos alunos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Carlos Cunha, Iago Barbosa, Matheus Lima e Fernando Guisso.

Todos os grupos tiveram três minutos para apresentar seus trabalhos, dois minutos para demonstrações e outros dois para responder perguntas dos jurados. Confira todos os projetos apresentados neste link. As três primeiras equipes ganharam kits DragonBoard 410c e Linkspirte e poderão participar da FutureCom 2018. Para dar continuidade aos projetos, as equipes terão direito a pré-acelerar seus empreendimentos na Baita Aceleradora e também a 8 horas de trabalho e orientação no Wikilab.

Além de Tundisi, João Naime e Daniel Bonini, a comissão avaliadora da SancaThon foi composta por: Paulo César Giglio, CEO da Incon Eletrônica e vice-diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP) em São Carlos; Alexandre Wellington de Souza, tenente-coronel do Comando Geral do 38º Batalhão da Polícia Militar; Mario Casale Neto, diretor de operações na Casale Equipamentos; Erwin Franieck, diretor de desenvolvimento da Bosch; Natanael Alves da Silva, coordenador do Centro de Ciência, Inovação e Tecnologia em Saúde de São Carlos e ex-presidente da Comissão Municipal de Saúde; Bruno Evangelista, diretor de desenvolvimento de negócios IOT da Qualcomm; Rodrigo Pereira do Portal Embarcados e Mirjan Schiel, representante da comunidade.

Concentração, criatividade e dedicação foram fundamentais durante a competição

A SancaThon é realizada em conjunto pela EESC, ICMC e pela Semana da Integração da Engenharia Elétrica (SIEEL). A iniciativa conta com o apoio da Agência USP de Inovação, da Agência de Inovação da UFSCar, do Portal Embarcados, da Sintesoft, da Faculdade de Tecnologia (FATEC) de São Carlos, da Semana da Engenharia de Computação da USP, do Portal Industrial, do Wikilab, do CIESP São Carlos, do Senai São Carlos, da Baita Aceleradora e da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia de São Carlos.

 

 Texto e fotos: Henrique Fontes – Assessoria de Comunicação do SEL

 

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Nova tecnologia baseada em lasers pode aumentar a segurança de usuários na internet

Nova tecnologia baseada em lasers pode aumentar a segurança de usuários na internet        

Trabalho foi reconhecido por uma das principais revistas científicas do mundo

Nova tecnologia desenvolvida por ex-aluno da USP ajudará a diminuir crimes virtuais. Imagem: Pixabay

Devido a um tráfego cada vez maior de informações online compartilhadas nos dias de hoje, a segurança virtual segue como ferramenta fundamental, principalmente no Brasil, onde mais da metade da população usa a internet.  Para ajudar nessa questão, Thiago Raddo, ex-aluno da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, desenvolveu uma nova solução que poderá dificultar a vida dos hackers que tentarem acessar informações particulares compartilhadas entre os usuários. O trabalho do pesquisador foi publicado na Scientific Reports, revista do grupo Nature.

Em sua tese de doutorado, o especialista levou em consideração uma das tecnologias que mais se destacam no mercado nacional de telecomunicações, as fibras ópticas, que são filamentos de vidro da espessura de um fio de cabelo que transportam dados através da propagação da luz por sua estrutura.

Normalmente, o sinal de luz que, nesse caso, é emitido por um laser, percorre a fibra com certo padrão, e o que o pesquisador propõe é torná-lo completamente imprevisível: “A partir do momento que um sinal de luz desordenado é usado para transmissão de dados, se torna muito mais difícil um usuário não autorizado ou um espião ter acesso à informação que está sendo enviada ao destinatário”, explica Thiago.

Para gerar “desordem” no sinal emitido, o laser deve receber a aplicação de uma força mecânica externa. A fonte de luz, então, é revestida por um suporte de alumínio que, ao invés de protegê-la, exerce uma pressão sobre ela. “O laser atua sem nenhum aparato complexo ou qualquer tipo de realimentação óptica. Isso é inédito na ciência atual”, diz o ex-aluno do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da EESC. A solução proposta é de baixo custo e pode ser facilmente replicada, completa o doutor em telecomunicações que viu sua tese virar um livro.

Suporte de alumínio exerce pressão sobre o laser (parte dourada no centro) para alterar formato das ondas de luz emitidas. Imagem: Thiago Raddo

A fibra óptica é uma boa plataforma para testar a técnica desenvolvida, especialmente por se tratar de uma tecnologia que irá predominar pelas próximas décadas, conta o especialista. As fibras suportam grandes quantidades de informações, são imunes a interferências, apresentam dimensões reduzidas e baixa perda de dados, sendo mais eficientes em relação às outras tecnologias existentes de acesso à internet de banda larga, como os cabos coaxiais ou as redes sem fio (via rádio). Transmissões ao vivo em alta definição, serviços On Demand e geração de conteúdos 3D em tempo real são exemplos de produtos que dependem de uma rede do tipo óptica para assegurar melhor qualidade de execução.

A segurança virtual no Brasil é algo que preocupa, ainda mais porque o país é o 4º do mundo que mais sofre com cibercrimes, segundo o último relatório Norton Cyber Security Insights, realizado em 2016. De acordo com o estudo, mais de 42 milhões de brasileiros foram afetados por criminosos virtuais durante o período, o que acarretou em um prejuízo na casa dos R$ 32 bilhões. O principal ataque é conhecido como ransomware, espécie de sequestro dos dados de um computador. Nesse caso, os bandidos invadem as máquinas, capturam os arquivos e bloqueiam o acesso de seus responsáveis, podendo exigir dinheiro em troca da devolução dos documentos.

Fibra Óptica é a melhor plataforma para testar a tecnologia desenvolvida pelo cientista. Imagem: Pixabay

Protegendo os dados – Uma tendência da maioria dos programas online utilizados para troca de mensagens ou informações, tais como WhatsApp Web, plataformas de e-mail e os navegadores é a criptografia, com a qual os dados do usuário são convertidos num formato especial antes de serem transmitidos pela internet, de modo que apenas emissor e receptor consigam compreendê-los.

Esse é o principal cenário em que a tecnologia desenvolvida por Thiago poderá ser utilizada. Pela ação do sinal imprevisível gerado pelo laser, a informação será criptografada, evitando que pessoas mal-intencionadas ou não autorizadas acessem o conteúdo transmitido. “A simplicidade do sistema proposto abre caminho para seu uso em diversas aplicações”, afirma o jovem que durante sua pesquisa teve orientação do professor Ben-Hur Viana Borges, do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação da EESC.

A tese do pesquisador leva o nome de Redes de acesso de próxima geração: sistemas OCDMA flexíveis e fontes VCSEL caóticas de baixo custo para comunicações seguras. Segundo Thiago, o principal desafio da pesquisa foi encontrar uma maneira de comprovar que o laser estava, de fato, emitindo um sinal desordenado e o esforço valeu a pena. O trabalho gerou um artigo que foi reconhecido e publicado por uma das principais revistas científicas do mundo, a Scientific Reports, que pertence ao grupo Nature.

Thiago teve seu artigo publicado por uma das principais revistas científicas do mundo. Imagem: Thiago Raddo

“Nós percebemos que tínhamos em mãos algo que poderia ter grande impacto científico e resolvemos tentar a publicação na revista. Assim que soubemos da resposta, foi uma recompensa”, celebra o ex-aluno que realizou a pesquisa em parceria com cientistas da Universidade Livre de Bruxelas (VUB), na Bélgica, onde conquistou a dupla-titulação. Ele foi o primeiro estudante a participar do convênio de cooperação entre a Universidade Belga e a USP, coordenado pelo Professor Ben-Hur.

Ainda não há previsão para a tecnologia entrar no mercado, pois ainda restam algumas etapas a serem concluídas, no entanto, os próximos passos já estão definidos: “Vamos estudar outras abordagens, aprimorar o que foi desenvolvido e aguardar o interesse da indústria”, finaliza.

Tese de doutorado de Thiago virou livro. Imagem: Thiago Raddo

 

Texto: Henrique Fontes – Assessoria de Comunicação do SEL

 

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Pós-graduação em Engenharia Elétrica mantém nível de excelência em avaliação da CAPES

Pós-graduação em Engenharia Elétrica mantém nível de excelência em avaliação da CAPES

 

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) divulgou na última semana a avaliação quadrienal dos programas de pós-graduação strictu sensu (mestrados e doutorados) do Brasil. Dos 4.175 programas avaliados, pouco mais de 4% deles receberam a nota máxima 7, equivalente aos padrões internacionais de excelência. Neste seleto grupo está o Programa de Pós-graduação em Engenharia Elétrica (PPG-EE) da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP), que manteve a nota obtida na última avaliação trienal da CAPES, realizada em 2013.

A avaliação deste ano contou com algumas novidades em relação às anteriores. A principal delas foi o período de avaliação escolhido que, pela primeira vez, abrangeu quatro anos (2013 a 2016). Também inédita foi a consideração de informações sobre mestres e doutores formados entre 1996 e 2014 a fim de avaliar o impacto social da pós-graduação. Outra novidade se deu pela análise de dados sobre os egressos dos cursos de mestrado e doutorado para investigar a inserção social obtida pelos programas.

As análises da avaliação quadrienal ocorreram entre os meses de julho e setembro e foram realizadas por comissões especializadas e pelo Conselho Técnico-Científico da Educação Superior (CTC-ES). Os critérios de avaliação foram os seguintes: proposta do programa, corpo docente, corpo discente, produção intelectual e inserção social.

Iniciada em 1976, a avaliação da pós-graduação stricto sensu é instrumento fundamental do Sistema Nacional de Pós-graduação (SNPG) e as utilidades dos resultados são diversas. Podemos citar, por exemplo, a possibilidade dos estudantes escolherem seus futuros cursos baseados nas notas atribuídas aos programas ou então das agências de fomento nacionais e internacionais orientarem suas políticas de investimentos de acordo com a avaliação. Os estudos e indicadores produzidos pela análise também atuam para induzir políticas governamentais de apoio e crescimento da pós-graduação, além de estabelecer uma agenda para diminuir desigualdades entre regiões do Brasil ou no âmbito das áreas do conhecimento.

Qualidade reconhecida – O Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da EESC-USP foi criado em 1975 com o Mestrado, estendendo-se ao Doutorado em 1997. Ao longo de sua trajetória, o Programa formou aproximadamente 700 mestres e mais de 250 doutores, com centenas de trabalhos publicados em veículos de alto impacto científico.

Embora oferecido para engenheiros eletricistas, eletrônicos e de computação, o PPG-EE acomoda alunos com diferentes formações, incluindo matemáticos, físicos, bacharéis em computação e de outras áreas da engenharia. Todo o conjunto de atividades do Programa é planejado para promover a formação dos estudantes sob o ponto de vista teórico-científico e tecnológico, preparando-os tanto para a carreira acadêmica e pesquisa quanto para atuar nos setores industriais e de serviços.

 

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Menor radiação em exames de mama: técnica aposta na restauração das imagens do paciente

Menor radiação em exames de mama: técnica aposta na restauração das imagens do paciente

Estudo realizado por cientistas da USP prevê redução de até 30% das doses de raio X sem prejudicar a qualidade dos exames; próximos passos da pesquisa são os testes clínicos.

            Mamografias foram restauradas depois de serem obtidas com menor radiação

Quanto mais se aumenta a dose de radiação a que uma paciente é exposta em um exame de mamografia, melhor a qualidade da imagem obtida das mamas, tornando, assim, o diagnóstico médico mais fácil. Porém, os riscos causados aos pacientes pela exposição aos raios X, têm feito os cientistas buscarem alternativas para a redução dessas doses, sem comprometer a visualização dos exames feita pelos especialistas da saúde. Por isso, pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP) criaram uma técnica capaz de restaurar imagens de mamografia 3D obtidas com até 30% a menos de radiação, mantendo a qualidade do exame.

O trabalho faz parte da pesquisa de doutorado de Lucas Borges, ex-aluno da EESC. Para restaurar as imagens adquiridas com menor radiação, ele utilizou técnicas computacionais de processamento de imagens, que filtram imperfeições das mamografias como, por exemplo, as granulações (ruído), que atrapalham a visualização médica. O pesquisador selecionou imagens clínicas de 72 pacientes fornecidas pelo Hospital da Universidade da Pensilvânia, entidade parceira no estudo. Depois que passaram por restauração, as imagens foram analisadas por cinco físicos-médicos do Hospital. “Quando questionados, os especialistas não souberam distinguir as mamografias restauradas daquelas que receberam a dose total de radiação”, afirma Lucas.

A dose de radiação convencional utilizada em mamografias varia de acordo com a espessura e a densidade das mamas da paciente, porém, busca-se sempre um “meio termo” entre a quantidade de radiação empregada e a qualidade mínima necessária para uma análise médica segura. No entanto, para testar a técnica de restauração de imagens, era preciso que todas elas fossem obtidas com qualidade inferior em relação às convencionais para, depois, serem melhoradas. Mas como realizar tantos exames sem prejudicar a saúde das pacientes?

A solução encontrada pelos pesquisadores foi a criação de um simulador de imagens mamográficas capaz de gerar “novos exames” com quantidades menores de radiação. “Conforme reduzimos as doses de raios X, o sistema calcula a quantidade de ruído que deve ser acrescentada em cada imagem simulada. Nós nunca iríamos conseguir um banco de imagens clínicas com várias doses diferentes de um mesmo exame”, conta o ex-aluno. Ao todo, foram criadas 1800 imagens.

Comparação de ruído existente em duas imagens. A primeira (a) foi obtida com dose total de radiação e a segunda (b), que foi restaurada, com apenas 50% da dose . Elas são praticamente idênticas ao olho humano.  

A redução das doses de radiação pode fazer grande diferença se pensada em larga escala: “Contando que cerca de metade da população mundial irá fazer o exame de mama periodicamente após os 40 anos, a redução de 30% que estamos propondo é bastante significativa”, explica Marcelo Vieira, professor do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação (SEL) da EESC e orientador de Lucas. A pesquisa foi realizada no Laboratório de Visão Computacional (LAVI) do SEL, que é coordenado pelo docente.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de mama é responsável por cerca de 28% dos novos casos registrados da doença anualmente no Brasil, sendo o segundo tipo mais comum entre as mulheres, perdendo apenas para o de pele não melanoma. O câncer de mama também pode acometer homens, apesar de ser raro.

O exame mais indicado para o diagnóstico da doença é a mamografia por raios X, porém, quanto mais frequente é a exposição das mulheres a esse tipo de radiação, maior o risco de indução do aparecimento de câncer em pacientes radiografadas. Para se ter ideia do quanto de radiação a que uma pessoa é submetida em exames que utilizam o raio X, durante uma viagem de avião da Europa até os Estados Unidos, a quantidade de radiação recebida por um passageiro é a mesma que a aplicada em um único exame de raio X do pulmão. A sorte é que exames pulmonares não são tão frequentes quanto os de mamografia.

Como é feita a restauração das imagens? Para tratar as imagens com qualidade inferior, os pesquisadores utilizaram um filtro de ruído produzido por um cientista da Universidade de Tampere, na Finlândia, que também é colaborador do projeto. No entanto, Marcelo explica que esse filtro não pode ser aplicado em qualquer tipo de imagem, mas somente naquelas que possuem o chamado ruído gaussiano, que são as imperfeições mais comuns encontradas em imagens. No caso das mamografias, elas são compostas, predominantemente, por outro tipo de ruído, o quântico. Diante do impasse, os pesquisadores tiveram que utilizar técnicas matemáticas para modificar as características do ruído das mamografias de modo a torná-las adequadas ao processo de restauração.

Lucas (à esquerda) e o professor Marcelo desenvolveram uma técnica para restaurar mamografias 

Segundo os pesquisadores, técnicas para filtragem de ruído de imagens médicas ainda sofrem certa resistência no meio acadêmico. Muitos acreditam que para reduzir as imperfeições das imagens basta aplicar qualquer filtro, mas não é tão simples assim. “O jeito que estava sendo feito era errado. Se souberem utilizar a ferramenta de forma correta, ela irá funcionar e nós mostramos isso no trabalho. Acredito que conseguimos tirar um pouco desse estigma durante a pesquisa”, afirma Lucas. Esse é um dos primeiros trabalhos da literatura que relaciona filtro de ruídos com redução de doses de radiação em imagens mamográficas 3D.

A tese de doutorado de Lucas, intitulada Redução da Dose de Radiação em Tomossíntese Mamária através de Processamento de Imagens, foi reconhecida em dois grandes eventos científicos da área. O primeiro deles foi o The 13th International Workshop on Breast Imaging, realizado em 2016, na Suécia, onde o trabalho apresentado foi considerado um dos 5 melhores da conferência. Já em 2017, um artigo apresentado pelo pesquisador ficou com o prêmio de segundo lugar na Conferência SPIE Medical Imaging, realizada nos Estados Unidos.

        Lucas (primeiro à esquerda) recebe prêmio em conferência na Suécia

Os próximos passos da pesquisa serão os testes clínicos, nos quais os médicos irão analisar as imagens restauradas com o objetivo de darem o diagnóstico final de um paciente. Até o momento, os cientistas firmaram acordo com médicos de quatro grandes instituições que participarão do estudo: o Hospital do Câncer de Barretos, a Clínica Eco e Mama de São Carlos, o Instituto de Radiologia (InRad) do Hospital das Clínicas da USP, em São Paulo, além do Hospital da Universidade da Pensilvânia. O trabalho foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

 

Texto: Henrique Fontes – Assessoria de Comunicação do SEL
Fotos: Marcelo Vieira e Lucas Borges

 

 

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